Eu sei muito pouco. Mas tenho a meu favor tudo que não sei e – por ser um campo virgem – está livre de preconceitos. Tudo eu não sei é minha parte maior e melhor: é minha largueza. É com ela que eu compreenderia tudo. Tudo que não sei é que constitui a minha verdade.”
Clarice Lispector
Paixão de Escrever A imagem mais linda, mais viva e mais antiga que tenho, que guardo no cantinho mais aquecido do meu coração é de minha infância, quando meu pai entre uma atividade e outra da roça ou no quilo das refeições juntava meus irmãos e eu a sua volta, para nos contar histórias. E como eram belas! Como aprendi com elas! Como aprendi com o teatro de sombras que meu pai, durante a noite, refletia na parede. Tenho-as em minha memória como se fosse um filme de minha vida!
Hoje, quando pergunto a meu ego o porquê de minha fascinação por ler e escrever, por mais que considere minhas leituras, sempre vencem a história de minha infância e a certeza de que minha criatividade e paixão pelos livros nasceram ali, nas histórias infantis de meu pai! Mesmo não sendo histórias lidas, pois a extrema pobreza de nossa família nos impedia o contato com os livros.
Aprendi as primeiras palavras no chão da roça, que me serviu de lousa e nosso giz eram os dedos do meu pai, que depois de alisar a superfície do chão, ia deslizando na criação mágica das palavras. Lembro muito bem das primeiras palavras lidas: pano (de bater arroz, feijão), café (que eu ia buscar inúmeras vezes para meu pai), merenda (que por volta da 14:00 minha mãe nos trazia), melão, melancia, abacate, abacaxi (quando minha mãe não trazia a merenda de pães de queijo, bolo de polvilho, fubá, brevidades, broas, etc. nossa merenda eram essas frutas), arroz, feijão, frango, ovo, céu, estrelas, lua, sol, dia, noite, Deus, pai, mãe, família, Iporá, Goiás, Brasil, etc. Palavras tiradas ali, do nosso meio, da nossa cultura. Eram leituras e escritas da nossa realidade, do nosso mundo. E a cada palavra que eu lia, era mais pedacinhos que eu ia juntando e através deles ia aprendendo ler outras palavras. Quando percebi já sabia ler. E cada elogio, de meu pai, eu me esforçava mais e mais. E já não deixava meu pai sossegado. Quando ele chegava da cidade com as compras eu queria ler todos os pacotes. Lembro até hoje da embalagem da noz-moscada que meu pai comprava para fazer chá.
Para mim, o aprendizado escrever, foi minha própria vida, sei que para outras vocações não teria a mesma facilidade. Enquanto que para escrever... é só viver e escrever...
Porém, meu pai não nos ensinou só a ler. Também nos ensinou o nome dos rios, das serras, das cidades, dos estados e suas divisas(fronteiras), o sistema monetário, porcentagem e matemática no geral. Sempre trazia consigo algumas cédulas no bolso e nos falava seu valor. Às vezes vendia toda a sua safra (imaginariamente) só para nos explicar o valor do dinheiro.
Somos seis irmãos e todos nós chegamos alfabetizados na escola. E quando descobri a minha vocação para ensinar, notei que, sem perceber, segui o exemplo do meu pai e alfabetizei meus filhos.
Minha mãe também foi e é autodidata, pois, aprendeu a costurar todos os tipos de roupas, sozinha e houve uma época, que meu pai ficou doente e ela nos sustentou com suas costuras.
Por isso, a minha insistência da participação dos pais na vida escolar dos filhos, para que haja sucesso escolar. Acredito no incentivo, no aplauso, porque foi através deles que comecei a acreditar no meu potencial e adquiri minha autoconfiança. Essa teoria fica clara nas falas de Vygotsky:
“...aquilo que é zona de desenvolvimento proximal hoje será o nível de desenvolvimento real amanhã – ou seja aquilo que uma criança pode fazer com assistência hoje, ela será capaz de fazer sozinha amanhã.” Vygotsky(1998).
“A zona de desenvolvimento proximal da criança é a distância entre seu desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas e o nível de seu desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes.” Vygotsky(1998).
Hoje, quando pergunto a meu ego o porquê de minha fascinação por ler e escrever, por mais que considere minhas leituras, sempre vencem a história de minha infância e a certeza de que minha criatividade e paixão pelos livros nasceram ali, nas histórias infantis de meu pai! Mesmo não sendo histórias lidas, pois a extrema pobreza de nossa família nos impedia o contato com os livros.
Aprendi as primeiras palavras no chão da roça, que me serviu de lousa e nosso giz eram os dedos do meu pai, que depois de alisar a superfície do chão, ia deslizando na criação mágica das palavras. Lembro muito bem das primeiras palavras lidas: pano (de bater arroz, feijão), café (que eu ia buscar inúmeras vezes para meu pai), merenda (que por volta da 14:00 minha mãe nos trazia), melão, melancia, abacate, abacaxi (quando minha mãe não trazia a merenda de pães de queijo, bolo de polvilho, fubá, brevidades, broas, etc. nossa merenda eram essas frutas), arroz, feijão, frango, ovo, céu, estrelas, lua, sol, dia, noite, Deus, pai, mãe, família, Iporá, Goiás, Brasil, etc. Palavras tiradas ali, do nosso meio, da nossa cultura. Eram leituras e escritas da nossa realidade, do nosso mundo. E a cada palavra que eu lia, era mais pedacinhos que eu ia juntando e através deles ia aprendendo ler outras palavras. Quando percebi já sabia ler. E cada elogio, de meu pai, eu me esforçava mais e mais. E já não deixava meu pai sossegado. Quando ele chegava da cidade com as compras eu queria ler todos os pacotes. Lembro até hoje da embalagem da noz-moscada que meu pai comprava para fazer chá.
Para mim, o aprendizado escrever, foi minha própria vida, sei que para outras vocações não teria a mesma facilidade. Enquanto que para escrever... é só viver e escrever...
Porém, meu pai não nos ensinou só a ler. Também nos ensinou o nome dos rios, das serras, das cidades, dos estados e suas divisas(fronteiras), o sistema monetário, porcentagem e matemática no geral. Sempre trazia consigo algumas cédulas no bolso e nos falava seu valor. Às vezes vendia toda a sua safra (imaginariamente) só para nos explicar o valor do dinheiro.
Somos seis irmãos e todos nós chegamos alfabetizados na escola. E quando descobri a minha vocação para ensinar, notei que, sem perceber, segui o exemplo do meu pai e alfabetizei meus filhos.
Minha mãe também foi e é autodidata, pois, aprendeu a costurar todos os tipos de roupas, sozinha e houve uma época, que meu pai ficou doente e ela nos sustentou com suas costuras.
Por isso, a minha insistência da participação dos pais na vida escolar dos filhos, para que haja sucesso escolar. Acredito no incentivo, no aplauso, porque foi através deles que comecei a acreditar no meu potencial e adquiri minha autoconfiança. Essa teoria fica clara nas falas de Vygotsky:
“...aquilo que é zona de desenvolvimento proximal hoje será o nível de desenvolvimento real amanhã – ou seja aquilo que uma criança pode fazer com assistência hoje, ela será capaz de fazer sozinha amanhã.” Vygotsky(1998).
“A zona de desenvolvimento proximal da criança é a distância entre seu desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas e o nível de seu desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes.” Vygotsky(1998).
Coraci Machado
VYGOTSKY,Lev S. – A formação social da mente. Livraria Martins Fontes Editora Ltda.1998.
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