Confidências de uma Iporaense
Alguns anos vivi em Iporá
Principalmente nasci em Iporá
Por isso sou triste, orgulhosa, de ferro
Oitenta por cento estrada vermelha, solo fértil
Noventa por cento de ferro na alma
E esse alheamento que na vida é apenas respiração e comunicação
A vontade de amar que me paralisa o trabalho
Vem de Iporá, de suas noites silenciosas, sem amores e sem horizontes
E o hábito de sofrer que tanto me diverte, é doce esperança iporaense
De Iporá trouxe prendas diversas que ora te ofereço
Esta Nossa Senhora Aparecida do velho peão estradeiro
Este couro de boi transformado em tamboretes
Esse orgulho, esta dignidade, esta cabeça, ora erguida, ora baixa, essa coragem...
E esta cultura arraigada até a alma
Tive sonhos, tive ilusões...
Tudo enfadonho, decepções...
Hoje sou funcionária pública
Iporá, não é nem fotografia na parede
E apenas uma saudosa lembrança !
Um eterno filme em minha vida
Mas como dói !
Coraci Machado
Adaptação do poema “Confidências do Itabirano” da Antologia poética de
Carlos Drumond de Andrade
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