"Continuo a mesma Cora de sempre, prefiro ser considerada rude, irônica, a viver com máscaras"

Coragoiana

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Só Saudade


Confidências de uma Iporaense

Alguns anos vivi em Iporá

Principalmente nasci em Iporá

Por isso sou triste, orgulhosa, de ferro

Oitenta por cento estrada vermelha, solo fértil

Noventa por cento de ferro na alma

E esse alheamento que na vida é apenas respiração e comunicação

A vontade de amar que me paralisa o trabalho

Vem de Iporá, de suas noites silenciosas, sem amores e sem horizontes

E o hábito de sofrer que tanto me diverte, é doce esperança iporaense

De Iporá trouxe prendas diversas que ora te ofereço

Esta Nossa Senhora Aparecida do velho peão estradeiro

Este couro de boi transformado em tamboretes

Esse orgulho, esta dignidade, esta cabeça, ora erguida, ora baixa, essa coragem...

E esta cultura arraigada até a alma

Tive sonhos, tive ilusões...

Tudo enfadonho, decepções...

Hoje sou funcionária pública

Iporá, não é nem fotografia na parede

E apenas uma saudosa lembrança !

Um eterno filme em minha vida

Mas como dói !

Coraci Machado

Adaptação do poema “Confidências do Itabirano” da Antologia poética de

Carlos Drumond de Andrade

terça-feira, 6 de outubro de 2009

"A Extensão dos Oceanos" Mat/Geo


Meus alunos da 4ª série(5º ano)tinham muitas dúvidas quanto as classes dos: milhares, milhões e bilhões. Para superar, mudei o foco para outras disciplinas e conteúdos. Utilizei inúmeras estratégias como quantidade de habitantes no mundo, no Brasil, em nosso Estado (MT), em nosso município(Água Boa) ou a extensão dos oceanos, como exemplifica este gráfico, elaborado em uma das atividades. O resultado é muito bom, por que eles compreendem com mais facilidade os valores. Dessa forma, os alunos conseguem quantificar e ainda aprimorar a leitura e construção de gráficos, além de melhorar o rendimento em Conhecimentos Gerais.

domingo, 4 de outubro de 2009

O que interfere no processo de democratização da escola

Em Água Boa – MT, a escolha dos dirigentes escolares é feita através do voto da comunidade escolar, tanto nas escolas estaduais quanto nas municipais. No caso das escolas municipais, a Lei 600/01 assegura esse processo.
Vejo que o processo de democratização da escolha de diretores tem contribuído para se repensar a gestão escolar e o papel do diretor. Há uma tendência crescente de entender o diretor como líder da comunidade e como gestor público da educação, porém, o que percebemos hoje, são diretores muito comprometidos com o administrativo da escola e esquecendo-se do pedagógico. O que encabeça o plano de ação do diretor é o pedagógico, no entanto, é comum passar os dois anos dos diretores sem estes se envolverem com a qualidade de ensino do alunado. Há uma lista de cobranças, entretanto, não há estratégias e nem apoio logístico e moral para se alcançar tais metas em parceria com a equipe de docentes.
A beleza das palavras Gestão Democrática nos causam desejo e até certeza de conquistas de liberdade, mas é preciso tomar cuidado para que esta “liberdade” não fique só no voto e sim nas ações e comportamentos de todos durante toda a gestão escolar. Paro afirma que “parece que o diretor consegue perceber melhor, agora, sua situação contraditória, pelo fato de ser mais cobrado pelos que o elegeram. Esse é um fato novo que não pode ser menosprezado. À sua condição de responsável último pela escola e de preposto do Estado no que tange ao cumprimento da lei e da ordem na instituição escolar, soma-se agora seu novo papel de líder da escola, legitimado democraticamente pelo voto de seus comandados, que exige dele maior apego aos interesses do pessoal escolar e dos usuários, em contraposição ao poder do Estado. Isto serviu para introduzir mudanças na conduta dos diretores eleitos, que passaram a ver e atender as solicitações de professores, funcionários, estudantes e pais” (PARO, 2001, p. 69).
Penso que a escola está fora de seu eixo que conduz ao trilho certo, porque há tanto discurso em qualidade e pouco se faz para alcançá-la. Coisas simples como ler/compreender e escrever não são dadas a devida atenção na escola. Nossos alunos do Ensino Fundamental são analfabetos funcionais. Não compreendem as atividades da escola, no entanto, compreendem muito bem o mundo além dos muros da escola. Não raro, nos dão shows de conhecimento e espertezas.
Daí que eu pergunto, que paradoxo é esse que nosso aluno não compreende o simples que explicamos e entende o complicado lá fora sem ninguém explicar. Ou será que é porque não explicamos? Seria a relação professor/aluno? A simpatia? O compromisso tanto do aluno quanto do professor? A disciplina/respeito?
A Gestão Democrática, precisa se reafirmar e pisar no solo da responsabilidade “qualidade de ensino”. Caso contrário não haverá o porquê desta liberdade. Conforme Paulo Freire: “De nada adianta o discurso competente se a prática é impermeável a mudança.”

Meus Pais e Minha Infância

“ Reflexões:
Eu sei muito pouco. Mas tenho a meu favor tudo que não sei e – por ser um campo virgem – está livre de preconceitos. Tudo eu não sei é minha parte maior e melhor: é minha largueza. É com ela que eu compreenderia tudo. Tudo que não sei é que constitui a minha verdade.”
Clarice Lispector
Paixão de Escrever
A imagem mais linda, mais viva e mais antiga que tenho, que guardo no cantinho mais aquecido do meu coração é de minha infância, quando meu pai entre uma atividade e outra da roça ou no quilo das refeições juntava meus irmãos e eu a sua volta, para nos contar histórias. E como eram belas! Como aprendi com elas! Como aprendi com o teatro de sombras que meu pai, durante a noite, refletia na parede. Tenho-as em minha memória como se fosse um filme de minha vida!
Hoje, quando pergunto a meu ego o porquê de minha fascinação por ler e escrever, por mais que considere minhas leituras, sempre vencem a história de minha infância e a certeza de que minha criatividade e paixão pelos livros nasceram ali, nas histórias infantis de meu pai! Mesmo não sendo histórias lidas, pois a extrema pobreza de nossa família nos impedia o contato com os livros.
Aprendi as primeiras palavras no chão da roça, que me serviu de lousa e nosso giz eram os dedos do meu pai, que depois de alisar a superfície do chão, ia deslizando na criação mágica das palavras. Lembro muito bem das primeiras palavras lidas: pano (de bater arroz, feijão), café (que eu ia buscar inúmeras vezes para meu pai), merenda (que por volta da 14:00 minha mãe nos trazia), melão, melancia, abacate, abacaxi (quando minha mãe não trazia a merenda de pães de queijo, bolo de polvilho, fubá, brevidades, broas, etc. nossa merenda eram essas frutas), arroz, feijão, frango, ovo, céu, estrelas, lua, sol, dia, noite, Deus, pai, mãe, família, Iporá, Goiás, Brasil, etc. Palavras tiradas ali, do nosso meio, da nossa cultura. Eram leituras e escritas da nossa realidade, do nosso mundo. E a cada palavra que eu lia, era mais pedacinhos que eu ia juntando e através deles ia aprendendo ler outras palavras. Quando percebi já sabia ler. E cada elogio, de meu pai, eu me esforçava mais e mais. E já não deixava meu pai sossegado. Quando ele chegava da cidade com as compras eu queria ler todos os pacotes. Lembro até hoje da embalagem da noz-moscada que meu pai comprava para fazer chá.
Para mim, o aprendizado escrever, foi minha própria vida, sei que para outras vocações não teria a mesma facilidade. Enquanto que para escrever... é só viver e escrever...
Porém, meu pai não nos ensinou só a ler. Também nos ensinou o nome dos rios, das serras, das cidades, dos estados e suas divisas(fronteiras), o sistema monetário, porcentagem e matemática no geral. Sempre trazia consigo algumas cédulas no bolso e nos falava seu valor. Às vezes vendia toda a sua safra (imaginariamente) só para nos explicar o valor do dinheiro.
Somos seis irmãos e todos nós chegamos alfabetizados na escola. E quando descobri a minha vocação para ensinar, notei que, sem perceber, segui o exemplo do meu pai e alfabetizei meus filhos.
Minha mãe também foi e é autodidata, pois, aprendeu a costurar todos os tipos de roupas, sozinha e houve uma época, que meu pai ficou doente e ela nos sustentou com suas costuras.
Por isso, a minha insistência da participação dos pais na vida escolar dos filhos, para que haja sucesso escolar. Acredito no incentivo, no aplauso, porque foi através deles que comecei a acreditar no meu potencial e adquiri minha autoconfiança. Essa teoria fica clara nas falas de Vygotsky:
“...aquilo que é zona de desenvolvimento proximal hoje será o nível de desenvolvimento real amanhã – ou seja aquilo que uma criança pode fazer com assistência hoje, ela será capaz de fazer sozinha amanhã.” Vygotsky(1998).
“A zona de desenvolvimento proximal da criança é a distância entre seu desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas e o nível de seu desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes.” Vygotsky(1998).

Coraci Machado

VYGOTSKY,Lev S. – A formação social da mente. Livraria Martins Fontes Editora Ltda.1998.