Entrevista realizada pela acadêmica Maria Madalena à Profª Coraci Machado
1- Qual o seu postulado teórico para alfabetizar?
A sala de aula deve servir para despertar os sentidos do aluno, transformando-se num local propício à aprendizagem. Daí, evito poluição visual e tenho um cuidado especial com a minha escrita (caligrafia), pois, o aluno ao fazer a leitura precisa diferenciar uma forma escrita de outra e uma caligrafia bem traçada irá ajudá-lo memorizar as convenções letra/som e seu traçado. Considero também a importância da afetividade, de uma boa relação professor/aluno, pois conforme Wallon, cada fase predominante (de dominância, afetividade, cognição, motricidade e emotividade), incorpora as conquistas realizadas pela outra fase, construindo-se reciprocamente, num permanente processo de alfabetização. Penso que bons pedagogos precisam gostar de crianças de verdade, não dá para fingir que gosta de crianças e ensiná-las ao mesmo tempo, afinal somos o exemplo delas e elas são mais espertas do que nós. Precisamos lembrar que as crianças estão mais interessadas em brinquedos e bonecas, são atraídas por contos de fadas, querem aprender e criar, por isso, estão mais próximas do artista e do mágico, do que de pedagogos bem intencionados. Benjamin critica a pedagogização da infância e faz cada um de nós pensarmos: é possível trabalhar com crianças sem saber brincar, sem ter nunca brincado?
Sempre tive cuidado com as mudanças que ocorrem com o passar do tempo no âmbito educacional, desde a relação com os pais a novas tendências e metodologias. Nunca desprezei o passado, pelo contrário, por intermédio dele ampliei o meu presente e enriqueci meus conhecimentos. Partindo desse postulado, minha metodologia de alfabetização é uma mistura de todas as tendências. Considero, em meu planejamento, que tenho que ensinar ler, escrever e compreender o mundo simultaneamente. Por isso, uso pouco o livro didático, gosto de produzir meu próprio material. Pois, considero o processo de alfabetizar e letrar simultâneos. Gosto de utilizar textos reais, como listas, poemas, bilhetes, receitas, contos, piadas, etc, e em diferentes suportes, como placas, outdoors, rótulos de embalagens e histórias.
Assim, ao desenvolver as habilidades de reflexão fonológica, oportunizo ao meu aluno a descoberta, por exemplo, que o CA de casa é igual ao CA de cavalo, o CA de caju, etc. Tais palavras estáveis (ou fixas) o ajudarão a ir percebendo as regularidades do nosso sistema de escrita e a utilizar conhecimentos adquiridos quando ler e escrever; Magda Soares (1999) postula que “letrar é mais que alfabetizar.” Alfabetizar letrando significa orientar a criança para que aprenda a ler e a escrever levando-a conviver com práticas sociais de leitura e de escrita. Segundo Emília Ferreiro e Ana Teberosky, a alfabetização formal se fixa no primeiro e segundo anos do ensino básico. A partir daí considera-se que o aluno já é um leitor.
No meu ponto de vista, portanto, a alfabetização consiste, no aprendizado do alfabeto e de sua utilização como código de comunicação e não se resume apenas na aquisição dessas habilidades mecânicas (codificação e decodificação) do ato de ler, mas na capacidade de interpretar, compreender, criticar, resignificar e produzir conhecimento.
